As implicações do olhar Materno...Pensando sobre a baixo auto-estima...
Sabemos da importância dos cuidados maternos no desenvolvimento físico e emocional de qualquer ser humano. São cuidados que não precisam ser aprendidos porque as mães, em sua maioria, entram em total sintonia com os seus bebês e, de alguma forma, decifram os seus desejos e as suas necessidades. É o que geralmente acontece sem que as mães percebam e sem que se preocupem se estão ou não fazendo a coisa certa. Segundo Winnicott, pediatra e psicanalista inglês, o rosto da mãe é o precursor do espelho.
O que isso quer dizer?
Que o rosto da mãe, mais especificamente o olhar, reflete para o bebê o que a mamãe vê nele, o bebê se vê através do olhar da mãe.
E o que o bebê vê através do olhar da mãe?
Geralmente vê um olhar carregado de afetividade que vai fazendo dele um ser único com um lugar no universo materno. Através do olhar da mãe, o bebê passa a se reconhecer como alguém importante e capaz. É através desse olhar que é possível construir a sua criatividade, autonomia e segurança. Não se trata de nenhum olhar supremo e dotado de poderes mágicos; trata-se do olhar comum que as mães comuns dirigem, com espontaneidade, aos seus bebês.
E quando o bebê olha e não encontra um olhar que o alimente com a sua própria imagem? Para se ter uma idéia da complexidade desse processo, podemos supor que a falta dessa sincronicidade pode acarretar comprometimentos no desenvolvimento emocional da criança desde os mais simples, como insegurança e timidez, até comprometimentos emocionais mais sérios, como a psicose infantil. Esse leque de possibilidades de formação de sintomas vai depender do grau de recursos internos que o bebê dispõe para tolerar frustrações, ou seja, olhar e não ser visto e, ainda, do grau de comprometimento da relação entre a dupla mãe e bebê. Uma mãe deprimida, nas raras vezes que verdadeiramente consegue olhar para o seu bebê, reflete em seu próprio rosto a tristeza, e será com esse semblante que o bebê terá que lidar. Lembro-me do caso de uma mãe que cuidava do seu bebê como uma atividade secundária: o tempo todo falava com as pessoas a sua volta enquanto o amamentava e, algumas vezes, utilizava esse tempo para ler revistas. Esse é um caso extremo, que traz um sintoma também extremo: o bebê fechou-se em seu próprio mundo e não pode se desenvolver.
Temos situações mais sutis, mas que deixam suas marcas. A questão da baixa auto-estima parece-me um bom exemplo de um dos sintomas que, na vida adulta, está relacionado com essa falta da mãe enquanto espelho. O próprio termo auto-estima denota que o esperado é que exista um bem-querer do sujeito para com ele mesmo. Esse sentimento de bem-querer, o reconhecimento do que é bom dentro de si e de que se tem algo a oferecer ao mundo e às pessoas; tudo isso é construído a partir dos cuidados, do acolhimento e do olhar maternos. Um bebê que procura se reconhecer no rosto da mãe e não consegue, talvez seja o adulto que não consiga travar relações autênticas porque se sente desvalorizado e pouco aceito. São pessoas que não se arrojam diante da vida porque não acreditam no que são capazes. É como se faltasse, dentro deles, um sentimento de proteção e de acolhimento. Parece que diante de situações de exposição essas pessoas vivem como se fossem grandes blefadoras e que, mais cedo ou mais tarde, serão descobertas.
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