Explicar o inexplicável
Tão Forte e Tão Perto é um filme capaz de produzir emoções genuínas na mistura da elaboração do luto e da descoberta de si mesmo. o atentado de 11 de setembro se torna coadjuvante
Por Eduardo J. S. Honorato e Denise Deschamps
Tão forte e tão perto, nova obra cinematográfica do inglês Stephen Daldry (Billy Elliot, As Horas, O Leitor) é uma adaptação para as telas do romance Extremamente Alto & Incrivelmente Perto de Jonathan Safran Foer e que conquistou duas indicações ao Oscar: melhor filme e melhor ator coadjuvante para o sueco Max von Sydow (Inquilino, avô). Embora aqui no Brasil não tenha sido recebido com muito entusiasmo pela crítica, mobilizou a plateia. Traz no elenco principal Thomas Horn (Oskar), Tom Hanks (pai, Thomas Schell), Sandra Bullock (mãe, Linda Schell). Veremos também em um papel coadjuvante a magnífica Viola Davis de Vidas Cruzadas no papel de Abby Black e Jeffrey Wright (Black). |
Neste filme, vamos conhecer o menino Oskar e acompanhar de perto sua busca. Embora tenha toda a questão política que envolve o 11 de setembro, ou o setembro negro, como ficou conhecido, ela nos será apresentada muito mais no sentido de lembrar-nos que a morte está sempre à espreita, que é sempre inesperada e inexplicável, trazendo um estranhamento repleto de dúvidas e enigmas. Foram escritas duras críticas que apontam para o fato do filme não conseguir contemplar toda a riqueza e até mesmo a questão central do livro. Mas essa tarefa sempre é cobrada de filmes que se baseiam em livro, e acaba que apaga a intenção do diretor ao construir seu caminho dentro de uma linguagem que não possui paralelo.
"Lembre-se, todo dia é um milagre." (Hazelle Black)
"Eu não acredito em milagres" (Oskar)
Oskar Schell é um menino excepcional para sua pouca idade. É um “perguntador” perspicaz, uma mente ávida, um grande admirador da cultura francesa, inventor amador e pacifista
GRANDE TECIDO SOCIAL
Tão Forte e Tão Perto se pretendeu alguma abordagem do evento em termos de pensar a sociedade, fez isso a partir das células menores que compõem o grande tecido social, leva a questão para as diversas formas que nos reunimos em nossos grupos familiares. Nosso protagonista nos apresentará um pouco desta rica montagem que se esconde por trás das portas que abrigam afetos e segredos. Não faz uma análise política e sequer aponta causas ou culpados, apenas relata a dor, o susto, a destruição da qual somos capazes. Deixa no ar o espanto diante da dor que somos capazes de promover ou ainda como no livro, focando a questão do avô, que remete aos “efeitos colaterais” que se acumulam guerra a guerra. Dor é sempre dor e muitos são os órfãos das guerras.
Tão Forte e Tão Perto se pretendeu alguma abordagem do evento em termos de pensar a sociedade, fez isso a partir das células menores que compõem o grande tecido social, leva a questão para as diversas formas que nos reunimos em nossos grupos familiares. Nosso protagonista nos apresentará um pouco desta rica montagem que se esconde por trás das portas que abrigam afetos e segredos. Não faz uma análise política e sequer aponta causas ou culpados, apenas relata a dor, o susto, a destruição da qual somos capazes. Deixa no ar o espanto diante da dor que somos capazes de promover ou ainda como no livro, focando a questão do avô, que remete aos “efeitos colaterais” que se acumulam guerra a guerra. Dor é sempre dor e muitos são os órfãos das guerras.
MESMO QUE PROTEGIDOS PELOS PAIS, NOSSOS FILHOS NÃO ESTARÃO SEMPRE SEGUROS, POIS VIVEMOS EM UMA SOCIEDADE QUE GERARÁ SEMPRE CONFLITOS. A VIDA EM SI NÃO TRAZ JAMAIS O SENTIDO DE SEGURANÇA QUE MUITAS VEZES QUEREMOS MAGICAMENTE LHE EMPRESTAR
A culpa de Oskar, que só nos é apresentada mais para o final da exibição, lança uma pergunta que vai encontrar eco em muitos teóricos que tentam entender nosso momento, a atualidade, em torno da construção de uma lei paterna mais acolhedora e amorosa, menos tirânica e agressiva, uma força aliada ao feminino, ao materno que sua mãe delicadamente nos apresentará de maneira bela, interpretada de forma quase artesanal pela nossa conhecida e querida Sandra Bullock (Linda).
O filme não toca em nada do que teria levado ao “terrível dia...”, como o nomeia Oskar, e que sabemos envolver ainda perguntas não respondidas, questões sem explicações plausíveis e que é algo que nos deixa “de cara” com o lado mais sombrio do que costumamos chamar de civilização. É de conhecimento comum a opinião de Freud sobre a religião, e de sua comparação à neurose coletiva. A imaturidade que levaria a uma busca por não autonomia deste sujeito e que em certos graus gera graves patologias psicológicas, como o fanatismo religioso. Fanatismos que jamais passam por um crivo de racionalidade, ou seja, impossível de se ver por uma lógica. Assim como Oskar ainda quedamos perplexos diante de acontecimentos para os quais não conseguimos assimilar ou entender. Toda a sucessão de guerras que temos assistido nas últimas décadas aponta para o injustificado de suas argumentações. Vale dar uma espiada no filme “W” do diretor Oliver Stone.
Ao longo da história temos relatos de como o fanatismo é sempre destrutivo socialmente, seja nas grandes tragédias das guerras, seja na guerra cotidiana, daquele que se faz presente, por exemplo, nos movimentos que tentam fornecer argumentos para a homofobia, quer seja pelo fanatismo religioso que deu origem a tantas outras guerras e massacres recentes, também de certa forma apresentado no atentado de 11 de setembro aos Estados Unidos, palco central da trama desse filme.
UM ANO DEPOIS DA TRAGÉDIA, TANTO OSKAR COMO SUA MÃE AINDA SEGUEM NAS ETAPAS DE ELABORAÇÃO DO LUTO. O OBJETO AINDA ESTÁ PRESENTE PSICOLOGICAMENTE E O INVESTIMENTO LIBIDINAL AINDA É FEITO
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