O que é Psicologia?

Vamos lá: quando você pensa em um psicólogo, que figura lhe vem à
mente?
Aposto que a figura do psicólogo clínico, algo à “la Freud”, com seu

divã
e sua feição séria foi a mais recorrente. Pois é, não só os não
psicólogos como os próprios estudantes de psicologia muitas vezes
identificam a própria psicologia com uma de suas possíveis áreas de
atuação, que é a psicologia clínica, e ainda mais especificamente,
aquela realizada individualmente no consultório particular. Com esse
pequeno e modesto texto, não pretendo esgotar o assunto, que pode ser
abordado de mil e uma maneiras. Já ficaria feliz, se, ao final dele,
você não achasse que psicólogo e psicanalista clínico tradicional são
sinônimos.

Definir
psicologia é um desafio porque na verdade não existe psicologia. Luis
Cláudio Figueiredo (2003) diz que a psicologia, longe de ser um
continente, é um arquipélago cheio de ilhas com suas próprias teorias,
linhas de pensamento, definição de objeto de estudo, métodos de
pesquisa, concepções de ser humano. Por isso, ele prefere falar em
psicologias. Por mais que alguns autores critiquem essa visão, acusem-na
de radical, acredito que há vantagens nesse modo de pensar. Longe de
ser um conhecimento fechado, coerente e certo sobre o ser humano, a
psicologia abriga várias linhas de estudo, cada qual com suas
singularidades, e que não podem ser unidas num todo.

Acho
que para quem não é da área isso esteja um pouco confuso, até porque a
imagem que a psicologia tem na mídia é bem diferente dessa que estou
tentando passar. Popularmente, o psicólogo é aquele que dá conselhos,
que ajuda as pessoas a se sentirem bem, que estudou alguma coisa que não
se sabe bem o quê, mas que tem um conhecimento sobre o que é certo ou
não fazer em determinadas situações. Essa imagem está bem longe do que
realmente a(s) psicologia (s) é(são) ou deveria ser.
Bom, há vários eixos de diferenciação que podem ser ressaltados, e não quero, de modo algum,

dizer que os que vou apontar são os únicos ou mais corretos. Para começar, quero diferenciar a
atuação clínica, a
pesquisa em clínica, a
pesquisa básica, e
possíveis utilidades da pesquisa básica.
Psicólogos querem ajudar pessoas, certo? Mais ou menos, eu diria.
Muitos querem, e desses, a maioria pode estar na área clínica, que, em
geral, é aquela voltada para atender pessoas. Dentro da grande área que
chamei de clínica, pode haver alguns psicólogos que também pesquisam. A
pesquisa nesse caso pode ser estudar casos, pesquisar como melhorar o
atendimento das pessoas. A
pesquisa clínica tem uma aplicação direta, que é na
atuação clínica.
Nesse eixo, há psicólogos em seus consultórios clínicos particulares,
ou em instituições públicas, em escolas, em hospitais, no esporte,
enfim, em muitos lugares.

Agora
há aqueles psicólogos mais interessados em entender pessoas. Ou melhor,
algum comportamento, alguma emoção, algum processamento de informações
na mente. Esses normalmente são pesquisadores. Claro que muitos deles
também estão interessados em ajudar pessoas, mas não todos. E essas
pesquisas que eles fazem não necessariamente vão ter utilidade prática
direta, por isso alguns as chamam de
pesquisa básica.
Em vez de estudar casos particulares, normalmente se estuda os
nomotéticos, ou seja, normas, coisas comuns. Como exemplos, algumas
perguntas que podem guiar pesquisas: Como os humanos adquirem a
linguagem? Como processamos as informações do mundo? Como as imagens que
chegam da retina são transformadas naquilo que vemos? Homens e mulheres
são diferentes em aspectos cognitivos, comportamentais? Por quê? Da
onde vem o preconceito? Por que sentimos vergonha? Como funciona a
memória? Por que somos atraídos por bebês? As emoções são universais? E
as expressões faciais? Enfim, são muitas as pesquisas que podem ser
feitas por psicólogos. E elas
não necessariamente vão gerar algum conhecimento prático,
que ajude a solucionar alguma coisa, ou ajudar certas pessoas. Trata-se
de um conhecimento sobre como as coisas funcionam, que pode ou não ser
útil no futuro, no sentido de gerar alguma tecnologia, alguma prática,
alguma forma de se ajudar pessoas.

Uma
observação: não necessariamente os clínicos, pesquisadores clínicos e
pesquisadores básicos são pessoas diferentes. O que quero dizer é que
num mesmo período de vida, um psicólogo pode clinicar, desenvolver
pesquisas na clínica, e ainda, pesquisas básicas. Uma coisa não exclui a
outra. E claro, ele também pode ser professor, dar aulas, que é uma
outra atividade, também não excludente.
E
dentro de tudo isso, ainda para complicar, existem as linhas teóricas
que guiam os clínicos, pesquisadores clínicos, pesquisadores básicos ou
professores. Normalmente os psicólogos se identificam com uma maneira de
pensar, de atuar, de entender o ser humano, que são várias. Vou citar
algumas: a psicanálise, o behaviorismo/análise experimental do
comportamento, etologia, psicologia evolucionista, cognitivismo,
gestalt, abordagem centrada na pessoa.

Cada
uma dessas linhas de pensamento tem origem histórica diferente
(Figueiredo, 2002), objetos de pesquisa diferentes (ex. na psicanálise o
objeto de estudo é o inconsciente, e na análise experimental do
comportamento, o comportamento), métodos diferentes (ex. na etologia
faz-se muita observação, na psicologia evolucionista, uso de
questionários e entrevistas), enfim, são maneiras de entender e, nas
linhas que se propõem a isso, de tratar o ser humano. Há alguns
profissionais que preferem não se denominar como pertencente a uma
dessas linhas teóricas, comumente porque se identificam com mais de uma,
e/ou porque sabem que nenhuma das linhas “descobriu” e desvendou tudo
do ser humano e preferem pegar um pouco de cada uma.

Ou
seja, deu para perceber que a psicologia não é uma área fechada e com
consenso. Há muita discussão e pesquisas em andamento, e tudo o que se
sabe é que ainda sabemos muito pouco do ser humano, sejam seus aspectos
comportamentais, cognitivos, emocionais. Por fim, podemos considerar que
o que une esse arquipélago das psicologias é o interesse pelo ser
humano nesses aspectos citados.
Por curiosidade, entrei na Wikipédia e lá está a definição de psicologia:
“A psicologia (do grego Ψυχολογία; ψυχή (psique), "alma", e λογία (logos), "palavra", "razão", "estudo") é a ciência que estuda os processos mentais (sentimentos, pensamentos, razão) e o comportamento humano e animal (para fins de pesquisa e correlação, na área da psicologia comparada)”. (Observação: “Psique” significa “alma”, mas para esse termo atualmente é entendido como “mente”).
Outro
lugar interessante de olhar para entender melhor o que é a psicologia é
o site do MEC, nas Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de
psicologia.(
http://portal.mec.gov.br/cne/index.phpoption=com_content&task=view&id=98&Itemid=227).
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