domingo, 16 de junho de 2013

Filme O Lado bom da Vida...


 O Lado bom da Vida...

Amores idealizados não tem defeitos, afinal não são humanos.
Amores possíveis são muitas vezes nossos espelhos, mostram quem somos.
Por isso muitas vezes preferimos viver de lembranças.Para que não haja o confronto de quem pensamos ser e o que somos de verdade.






“Como fica forte uma pessoa
quando está segura de ser amada”.

(Freud)
 

O comportamento humano é o produto da nossa atividade encefálica.
Nosso encéfalo encontra-se localizado no interior do crânio e é formado por estruturas que funcionam de maneira integrada, fazendo a ligação entre o sistema nervoso e o sistema endócrino, regulando nossas necessidades biológicas básicas (exs: fome, sede, sono, desejo sexual, circulação sanguínea, temperatura do corpo) e por esse motivo é considerado o orgão "guardião do corpo".

Cada um de nós tem a sua singularidade, a sua subjetividade, com comportamentos que podem ou não (dependendo da cultura) serem considerados bizarros ou esquisitos.

Atenção:
Todos nós temos as nossas *esquisitices*,nosso jeito de ser e é bom que seja assim. Não somos ser humanos fabricados por série, para sermos todos iguais.
Uma pessoa é considerada mentalmente alterada e precisando de cuidados médicos, quando seus comportamentos causam prejuízos funcionais e dificuldades de adaptação.
É a nosso funcionamento na vida que vai mostrar até que ponto nossas esquisitices estão dentro da normalidade.(ou não).

No filme O lado bom da vida, Pat Solitano Jr. (Bradley Cooper), foi diagnosticado como portador do distúrbio bipolar.
Pat exibia um comportamento agressivo, que culminou numa agressão violenta ao homem com o qual a sua mulher o traiu.

Freud no livro Mal-estar na Civilização reconhece na agressividade inata do homem a principal ameaça à vida em sociedade.
 

Para a psicanálise amor e ódio são os dois sentimentos base nos quais -e a partir deles - se constroem –ou se destroem-as relações humanas

Desde muito cedo na vida aprendemos a experiência de nos esforçarmos para não nos sentirmos excluídos (-“Vou ser bonzinho para minha mãe me amar”.).
Já nascemos enamorados e carentes de amor, e se não encontramos pela vida afora um abrigo que acolha e contenha nossas dores, adoecemos.

Como rejeições e disputas fazem parte da nossa existência, todos nós-dependendo do motivo ou em situações extremas, podemos libertar nossa fera; a nossa forma -não o certo ou errado- de enfrentar o ódio que trazemos dentro de nós, já que vivemos o abandono, o desamparo, e a insegurança, mesmo quando negamos e maquiamos, emprestando a realidade -magicamente- apenas o lado bom da vida.

Há um limite de angústia suportável-para cada um há uma medida-que ultrapassado, faz surgir o sintoma.

O filme o lado bom da vida fala dos encontros e desencontros, da normalidade, ou da desordem psíquica e das forças que nos habitam: Força da vida (Eros) e Força de morte. (Thânatos).

Tudo começa com nossas emoções.

Mas afinal o que é uma emoção?
Emoção é uma resposta do organismo a um evento externo ou interno que gera excitação fisiológica, expressões faciais, movimentos do corpo e sentimentos.

São as nossas emoções que dirigem os nossos comportamentos.
Já pensou o poder que as emoções têm na nossa vida?
 

E é aqui-nas emoções- que moram as dificuldades das pessoas que sofrem do transtorno bipolar, pois as emoções dão o tom das nossas experiências.
É a interpretação do estímulo que faz detonar a emoção, e que depende dos nossos conteúdos internos.
Nossa fisiologia é alterada- uma enxurrada de neurotransmissores provoca alterações nas sinapses provocando aumento ou diminuição de atividade em vários centros cerebrais.

Por isso a tomada de decisão depende de como percebemos o ambiente e os estímulos.
Lembra de Pat no consultório do analista?
Ele escutou uma música que o fez lembrar de Nikki (sua ex mulher) e por conta disto ficou alterado e quebrou a sala de espera.

Que mistério cada ser esconde dentro de si, não é mesmo?

A mesma música que me faz ter lembranças de carinho e amor,  pode ser –para um outro - deflagradora de gestos agressivos e violentos.

Pat era completamente solto emocionalmente. Ele tinha dificuldades em assumir compromissos com o *Outro social*.
Lembra da cena quando Pat lia um livro e ele não gostou do final, correu ao quarto dos pais, - eram 4 horas da manhã-ele os acordou e falava sem parar, depois jogou o livro pela janela quebrando as vidraças.
Esse é um comportamento bem típico de pessoas com transtorno bipolar.
Eles regridem feito crianças que ainda não aprenderam a ter controle sobre seus impulsos.

É a capacidade de pensar que organiza o nosso caos interno. É no equilíbrio das emoções - na busca pelo menos - que encontramos alívio e suporte para nossas perdas.

Quando crianças começamos a experimentar as nossas primeiras perdas... no animal de estimação que morre... nos brinquedos perdidos...e no contato com as dores naturais da vida.
São essas experiências- e como as vivemos- que vão formatar a estrutura da nossa base emocional.

Tratamentos para o distúrbio bipolar:

Na clínica onde Pat estava internado, num recorte de uma cena ele joga no lixo o remédio que a enfermeira acabava de ministrar a ele. Essa é uma atitude muito comum aos portadores de transtornos mentais, já que são doenças que parecem ser invisíveis, diferente de quando temos alguma infecção ou alguma dor em algum membro.
A pessoa que possui o transtorno não tem consciência do seu estado e *imagina* que está bem.

Como há uma desregulação dos neurotransmissores o tratamento deve ser profilático, ou seja, num continuum, mesmo quando não estão em crises, a medicação deve ser usada.
Os estabilizadores de humor são os medicamentos mais utilizados, mas é o psiquiatra que vai receitar nas doses certas.

Concomitantemente a psicoterapia pode ajudar nas adaptações, na qualidade de vida, mas principalmente no autoconhecimento.

Freud dizia que a psicanálise é a cura pela palavra.
São as palavras que vão formando nossos pensamentos e ao verbalizá-las vamos organizando nossa vida psíquica.
Conhecer quando, e porque agimos de uma determinada maneira vai nos ajudar a enfrentar o inusitado da vida, os “nãos” que insistimos em não querer escutar.

Pat não queria se olhar “por dentro”, ele dizia que era seu pai que era “estourado”.
Aliás, ver nos outros o que somos é mais fácil e menos doído.

A conscientização do portador quanto ao seu transtorno é fundamental para o tratamento e só acontece-normalmente- quando há grandes perdas na sua vida.
Precisamos que nosso pensamento - nossa instância mediadora da realidade-seja capaz de julgar adequadamente as situações, permitindo resolver nossos problemas e tomar as nossas decisões.


Nas sessões de psicoterapia nossas experiências serão desenterradas, dissecadas, para que sejam reconhecidas e integralizadas na consciência não para autocobranças, mas para aprendizado.
Mas pode doer, porque viver dói muitas vezes e para todos nós.

No tratamento psicoterápico as feridas são re-abertas para sair o pus e o sangue, para só então poderem cicatrizar.
Na complacência do perdão e com a releitura dos acontecimentos e circunstâncias do passado, vamos ressignificando o presente com a ajuda do psicoterapeuta.


Tiffany (Jennifer Lawrence)



Com Tiffany- que também tinha problemas psíquicos, Pat
se recusava a viver uma relação de amor que havia renascido em seu coração.
Ele preferia se refugiar nas suas lembranças e num amor idealizado com Nikki, sua ex-esposa.
Pat se escandalizava com ela, desde que ela confessou que havia transado com todos os que trabalhavam com ela. (eram onze).
É um dos sintomas do distúrbio bipolar.
A promiscuidade sexual.
São as compulsões, que acontecem para tamponar a angústia interna.

Tiffany com seu amor,com seu cuidado e atenção conseguiu fazer com que Pat, dançando com ela - se reconectasse com a vida real, quando ele pode então viver –com ela-um amor possível.

Amores idealizados não tem defeitos, afinal não são humanos.
Amores possíveis são muitas vezes nossos espelhos, mostram quem somos.
Por isso muitas vezes preferimos viver de lembranças.Para que não haja o confronto de quem pensamos ser e o que somos de verdade.


Esse filme mostra de uma maneira simples e bem humorada o cotidiano dos portadores de bipolaridade e de quem convive com eles.

Quero terminar meu texto com uma pontuação importante:
Preste atenção, por favor:

Você é muito mais do que seu diagnóstico, seja ele qual for.
Saiba que dentro de nós moram forças poderosas que podem vencer as nossas contradições, e nossas dificuldades.
Não desista de ser quem você é, com seu lado capenga , mas principalmente com suas qualidades.
Não desista dos seus sonhos  e de ver o lado bom da vida apesar da brutalidade da existência.

Acredite: há em nós , bem lá no íntimo do nosso sera ternura capaz de neutralizar e fazer brilhar as nossas noites que são muitas vezes mais escuras do que toda a escuridão do mundo.


Paz para você, sempre!
Maria Poesia.