sexta-feira, 1 de março de 2013

Qual a diferença entre psicólogo, psicanalista e psiquiatra?


Qual a diferença entre psicólogo, psicanalista e psiquiatra?

Recentemente, me dei conta que essa é uma dúvida muito corriqueira entre as pessoas de um modo geral, daí a necessidade de elucidação. Vejamos:

Psicólogo é o profissional com graduação (curso universitário) em Psicologia. Este profissional pode se dedicar à área clínica ou não. A Psicologia possui um diversificado leque de segmentos e especializações, tais como:

• Psicologia Organizacional: Aqui a psicologia é aplicada aos contextos organizacionais, ou seja, em empresas. O psicólogo organizacional trabalha em processo de seleção de pessoal, bem como, nos processos de interação e comportamento dos membros daquela organização.

• Psicologia Escolar: Aqui temos a aplicação da psicologia no estudo da aprendizagem, motivação, avaliação, comportamento e processos de interação dentro das escolas. Atualmente muito se tem ouvido falar da importância do psicólogo escolar no sentido de evitar que a escola se torne um ambiente hostil, com a incidência do tão comentado bullying .

• Psicologia Jurídica: os psicólogos que se dedicam a essa área da psicologia, realizam estudos acerca do comportamento daqueles que descumprem os preceitos legais. Há processos de avaliações de condenados, suspeitos e testemunhas, bem como assistência psicoeducativa aos que estão cumprindo penas.

• Psicologia Clínica: Esta é a área da psicologia que está ligada a prática e investigação dos processos mentais, do comportamento e da psicopatologia. O psicólogo clínico pode trabalhar com avaliações psicológicas (aqui temos também uma área específica da psicologia, qual seja a neuropsicologia) e trabalha com psicoterapia, que pode ter várias orientações: psicanalítica, cognitiva, humanista, fenomenológica-existencial, etc. A formação psicoterápica é obtida por meio de curso de especialização a nível de pós-graduação.

Psicanalista é o profissional com formação em psicanálise. Este profissional não precisa ser psicólogo, ao contrário do que muitas pessoas pensam. Para ser psicanalista é preciso ter um curso superior e realizar a formação em psicanálise. As escolas da psicanálise são variadas, dentre as quais podemos citar: freudiana, lacaniana, kleiniana, winnicottiana, etc.

Psiquiatra é o médico com especialização em psiquiatria. O psiquiatra não é necessariamente psicoterapeuta. A função básica do psiquiatra é a de todo médico: diagnosticar um adoecimento (que neste caso é mental) e prescrever a medicação necessária. Alguns psiquiatras são também psicoterapeutas, para tanto realizam formação (especialização) em psicoterapia, na linha de sua preferência (psicanalítica, cognitiva, humanista...).

Esta semana, uma amiga me perguntou qual seria a diferença entre fazer psicoterapia com um psicanalista e com um psicólogo. Após realizar os esclarecimentos acima, respondi que a escolha de um psicanalista (que pode ser também psicólogo, conforme já vimos) ou de um psicólogo que segue outra linha psicoterápica depende do que a pessoa procura e precisa. Por exemplo, em casos de sintomatologia (adoecimentos) como síndrome do pânico e depressão, por exemplo, o mais indicado é a terapia cognitiva. Em situações onde o sujeito pretende realizar um processo de auto conhecimento e dispõe de mais tempo para investir no processo, talvez a linha psicanalítica fosse mais indicada. Mas, e o psiquiatra? Quando ele deve ser procurado?

As doenças psíquicas possuem, via de regra, dois tratamentos básicos:

1. Psicoterapia;
2. Farmacoterapia.

A psicoterapia nós já vimos quem são os profissionais que podem realizá-la. A farmacoterapia fica ao encargo do psiquiatra. Geralmente, os pacientes chegam aos consultórios psiquiátricos por encaminhamento de outros profissionais, médicos ou psicoterapeutas (não psiquiatras).

Loucura X Normalidade.


                      Loucura X Normalidade.

"A arte de ser louco é jamais cometer a loucura de ser um sujeito normal."(Raul Seixas).

O que é loucura?

O Grito (1893) -  Edvard Munch

A sociedade insiste em dividir as pessoas em dois grandes grupos: loucos e normais. Mas qual seria a gradação entre normalidade e loucura? Os tradicionais conceitos de normalidade / loucura costumam ser fechados, superficiais, utópicos e estigmatizantes.

Muitas vezes, para se submeter ao conceito de normalidade, o sujeito precisa abrir mão de sua porção racional. Sim, pois não raramente pensar é considerado insano ao incitar o questionamento.

Nos termos do dicionário Houaiss, loucura é “um distúrbio da mente do indivíduo que o afasta de seus métodos habituais de pensar, sentir e agir”.

Da referida definição poderíamos inferir que quando o sujeito se afasta de sua verdadeira essência, abrindo mão de ser quem realmente é para ser simplesmente aceito, sentindo-se parte integrante de um meio social que impõe regras ditatoriais de comportamento com a exigência clara de que abra mão de refletir (!), está louco. Mas esse, para a sociedade, é o sujeito “normal”.

Até agora manifestei apenas minha opinião pessoal acerca de normalidadeversus loucura. Mas deixemos minha visão filosófica e voltemos, agora, nosso olhar para a psicopatologia, ciência que estuda o adoecimento mental. Sim, pois é muito comum a associação pejorativa do doente mental ao termo “louco”.

  Auto retrato com a Orelha Cortada (1889) - Vincent van Gogh.

O conceito de normalidade em psicopatologia está atrelado a saúde mental, mas também apresenta-se repleto de controvérsias. São vários os conceitos utilizados para definir normalidade em psicopatologia, conforme bem enumera Dalgalarrondo (2008). Vejamos:

1. normalidade como ausência de doença. De acordo com esse conceito, quem não possui uma enfermidade mental, seria saudável. Temos aqui um conceito fechado e falho, fincado numa definição negativa (ausência da doença);

2. normalidade como sinônimo de bem estar. Este conceito é da OMS (1946), mas guarda alto grau de utopia, pois para ser saudável o sujeito precisa apresentar bem estar completo: físico, mental e social. Percebe-se que poucos se enquadrariam nesse conceito;

3. normalidade estatística. Aqui a normalidade teria um conceito de fenômeno quantitativo. O normal passa a ser aquilo que se observa com mais freqüência, o que torna esse conceito bastante questionável, pois nem tudo que é raro é patológico;

4. normalidade funcional. Aqui o fenômeno não é quantitativo e sim funcional, ou seja, sempre que é disfuncional e produz sofrimento ao sujeito, o fenômeno é patológico;

5. normalidade como um processo. Aqui se consideram processos dinâmicos do desenvolvimento psicossocial, das desestruturações e reestruturações ao longo do tempo;

6. normalidade subjetiva. Aqui a ênfase é dada na percepção subjetiva do próprio sujeito em relação ao seu estado de saúde. Esse critério é questionado, pois muitos sentem-se bem e se consideram saudáveis, mesmo estando doentes;

7. normalidade como liberdade. Este conceito vem da fenomenologia existencial, onde os autores consideram que a doença mental seria decorrência da perda de liberdade existencial. O adoecimento mental seria o constrangimento do ser, o fechamento das possibilidades existenciais;

8. normalidade operacional. Este é um conceito arbitrário, onde se define previamente o que é normal e patológico, trabalhando-se operacionalmente com tais conceitos.

Após tal enumeração, Dalgalarrondo (2008) conclui que os critérios de normalidade e de doença em psicopatologia variam em função dos fenômenos que são trabalhados e de acordo com as opções filosóficas do profissional. Também chama a atenção para a necessidade dos profissionais de saúde mental manterem uma constante postura crítica e reflexiva acerca de tais parâmetros.

A loucura talvez seja realmente perder a razão. Mas perder a razão é uma questão de ponto de vista. Chamar o doente mental de louco é grosseiro e pejorativo. Porém, há quem use o termo para se referir a algo positivo, admirável, genial. Quanta controvérsia... tudo depende mesmo da subjetividade de cada um, do aspecto sob o qual se desenha um conceito, um paradigma.

Acredito que a sanidade esteja na capacidade de respeitar o outro e a si mesmo, de desenvolver empatia e de jamais abrir mão de sua própria essência, de ser quem simplesmente se é. Em precisando ser a sanidade algo diverso disso, fico com o brilhantismo de Lya Luft:

“Apesar do medo, escolho a ousadia.
Ao conforto das algemas, prefiro a dura liberdade.
Vôo com meu par de asas tortas, sem o tédio da comprovação.
Opto pela loucura, com um grão de realidade: meu ímpeto explode o ponto,
Arqueia a linha, traço contornos para os romper.
Desculpem-me, mas devo dizer: eu quero o delírio.”
Lya Luft.

O que é ética?

O eu é uma ilusão



O eu é uma ilusão


No último post apresentei ao leitor um pouco da vida e do pensamento do médico e psicanalista Georg Groddeck (1866-1934). Trata-se de um autor cuja obra, injustamente e a despeito de sua originalidade e relevância, jamais obteve o devido reconhecimento por parte das ciências humanas.
Tratando de pacientes com doenças físicas,Groddeck teve acesso de forma inteiramente autônoma aos mesmos curiosos fenômenos que levaram Sigmund Freud, criador do método psicanalítico, a formular o conceito de Inconsciente.
Neste artigo desejo explorar alguns aspectos interessantes do pensamento de Groddeck relativos à noção de “eu” a fim de demonstrar seu ponto de vista acerca da subjetividade. Estou certo de que as questões e problemas colocados pelo autor são ótimas contribuições para uma reflexão atual sobre a nossa identidade em mundo habitado cada vez mais por perfisavatarsfaces
Rumo a Deus-Natureza

Como disse no texto anterior, além da dedicação à arte de curar, Groddeck também nutria uma forte paixão pela literatura, herança de seu avô e de sua mãe. Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832), o maior poeta da língua alemã, era decerto um de seus autores preferidos.
Com efeito, Goethe, além de insigne escritor, também se interessava por ciência e filosofia. Inspirado pelas ideias de Benedictus de Spinoza (1632-1677), filósofo que chocara seus contemporâneos ao propor a tese de que Deus não é um ente separado e transcendente à Natureza, mas é a própria Natureza, Goethe formulara o conceito de Deus-Natureza (Gottnatur). Todavia, contrariamente à Natureza de Spinoza, o Deus-Natureza de Goethe correspondia à ideia romântica de “mãe natureza”, que cria e sustenta tudo o que há no mundo de acordo com uma finalidade pré-determinada.
Como prova de sua veneração ao poeta, Groddeck escreve em 1909 um ensaio chamado “Rumo a Deus-Natureza” (“Hin zu Gottnatur”), texto que já indica as futuras elaborações teóricas do médico. De fato, nesse texto encontra-se a ideia que está presente tanto na filosofia de Spinoza quanto nos escritos de Goethe e à qual Groddeck também chega a partir de sua experiência clínica, a saber: a de que, na verdade, aquilo que nós chamamos de “eu” não passa de uma miragem, de uma ilusão, de um engodo!
Uma ilusão necessária
Por que estamos tão seguros de que somos um “eu”, ou seja, de que cada um de nós é um indivíduo distinto e absolutamente separado do restante do mundo? Para Groddeck, não há nada que nos dê qualquer garantia disso. Malgrado os mais recentes avanços da ciência, ainda não somos (e talvez jamais sejamos) capazes de saber ao certo quando o “eu” passa a existir. Será a partir do nascimento? Desde a concepção? Mas e o que antecede o encontro dos gametas? Se continuássemos a fazer tais perguntas, diz Groddeck, chegaríamos ao ponto de admitir que, no limite, o “eu” de cada um de nós já está de algum modo presente nos nossos ancestrais mais longínquos!
Igualmente, não chegaremos a nenhuma conclusão definitiva caso tentemos afixar os limites espaciais do nosso “eu”. Afinal, como Groddeck costumava dizer, jamais saberemos o exato momento em que um pedaço de pão que comemos se torna parte do nosso “eu” ou quando um determinado som que por ventura ouçamos deixa de ser um elemento exterior e passa a nos constituir.
Ao fazer tais indagações, Groddeck pretende desnudar o caráter ilusório de nossa individualidade, demonstrando que, na verdade, cada um de nós é apenas um modo de expressão da Natureza, isto é, estamos radicalmente inseridos nela, somos uma parte indissociável do todo, um imenso conjunto de relações. Em decorrência, entre o mundo e o que nós chamamos de “eu” não há de fato uma separação, mas uma relação de continuidade. Como diria Renato Russo, somos como gotas d’água, grãos de areia.
Groddeck, contudo, reconhece que a ideia de que somos um “eu” separado, dissociado, independente do resto da Natureza é difícil de ser abolida. Com efeito, é ela que sustenta a crença de que somos livres e responsáveis por nossas escolhas e ações – aspecto inegavelmente útil para a convivência em sociedade. Ademais, com exceção talvez daqueles que após se submeterem a experiências místicas afirmam ter provado a sensação de “serem um com o todo”, a grande maioria de nós jamais conseguiu se desvencilhar do sentimento de ser um “eu” separado do mundo.
Levando tudo isso em conta, Groddeck conclui que, conquanto objetivamente se possa dizer que o “eu” ou a noção de “indivíduo” seja uma quimera, o sentimento de ser um “eu”, livre, autônomo, consciente e responsável por seus atos parece ser um elemento atávico em nós, ou seja, impossível de ser eliminado. Para o médico, a Natureza, tendo em vista a utilidade da crença no livre-arbítrio e na responsabilidade individual, teria forjado no ser humano esse sentimento de individualidade.
Não obstante, Groddeck acuradamente ressalta as grandes limitações que uma noção reduzida do “eu” pode trazer para a compreensão de nossa existência. De fato, se nos ativermos apenas ao que sabemos conscientemente, teremos acesso somente a uma porção ínfima das causas que influenciam nossas decisões e comportamentos. Assim como não somos capazes de controlar deliberadamente a maioria dos processos fisiológicos que acontecem em nosso corpo – ninguém pode, por exemplo, determinar a quantidade de nutrientes que serão absorvidos na corrente sanguínea – assim também não estamos conscientes da série de fatores que condicionam nossas ações e atitudes aparentemente “livres”.
Nesse sentido, nos encontramos sempre mais ou menos “alienados” em relação às causas de nossos comportamentos e tal “alienação” ou “inconsciência” tenderá a ser tanto maior quanto mais reduzida for a concepção que temos de nós mesmos como indivíduos. Em outras palavras, nossa “alienação” aumenta quanto mais reduzimos o que somos ao nosso “eu”, ou seja, àquilo de que temos consciência. Foi justamente por esse motivo, e com o intuito de propor uma concepção de ser humano a mais abrangente e menos “alienada” possível, que Groddeck forjou, em oposição à ideia de “eu”, o conceito de “Isso”. Mas Isso é assunto para um próximo post.
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Este artigo foi originalmente publicado em Benedita, ano 1, n. 2, julho de 2012.

Introdução às Obras de Freud, Ferenczi, Groddeck, Klein, Winnicott, Dolto, Lacan

Introdução às Obras de Freud, Ferenczi, Groddeck, Klein, Winnicott, Dolto, Lacan
                                                           
SINOPSE

Encontram-se aqui reunidos, pela primeira vez em um único volume, os grandes autores da psicanálise, sua vida e sua obra. Verdadeiro instrumento de trabalho para o especialista e o estudante, este livro serve de guia às obras dos sete psicanalistas cujas perspectivas teórico-clínicas são indispensáveis a uma abordagem criteriosa do pensamento psicanalítico. Cada capítulo é consagrado a um autor, e compreende uma apresentação de sua vida e das idéias fundamentais em sua obra; uma seleção de excertos temáticos da obra; um quadro cronológico dos eventos importantes de sua vida e uma seleção bibliográfica.
Sob a direção de Nasio, uma equipe de colaboradores dedicou-se à tarefa de modo rigoroso. "Busquemos bem dizer o que já foi dito, e teremos a chance, talvez, de dizer algo novo." Esta foi a perspectiva metodológica que orientou a elaboração deste livro. Sempre articulando a produção conceitutal ao veio fecundo da experiência clínica, os diversos colaboradores souberam evitar tanto a linearidade da ortodoxia quanto as simplificações caricatas, preservando assim a densidade inerente às obras tratadas.
A estrutura eminentemente didática desta Introdução oferece uma visão global e sistematizada das principais teses que compõem o legado psicanalítico. Além de proporcionar um acesso às obras dos grandes nomes da psicanálise, os autores pretendem também que este seja um estímulo para que o leitor passe diretamente às fontes, voltando-se para os textos originais.

Livro: http://books.google.com.br/books?id=m4zR0mYggdAC&pg=PA305&lpg=PA305&dq=Introdu%C3%A7%C3%A3o+%C3%A0s+Obras+de+Freud,+Ferenczi,+Groddeck,+Klein,+Winnicott,+Dolto,+Lacan+J.-D.+Nasio+(dir.)+Livro+online&source=bl&ots=i6WshofVeJ&sig=7UQTRHJ9UuF6jGELTAGhM7qFky4&hl=pt&sa=X&ei=7acwUdLnEY-A9QTe44CgCQ&ved=0CDMQ6AEwAg#v=onepage&q=Introdu%C3%A7%C3%A3o%20%C3%A0s%20Obras%20de%20Freud%2C%20Ferenczi%2C%20Groddeck%2C%20Klein%2C%20Winnicott%2C%20Dolto%2C%20Lacan%20J.-D.%20Nasio%20(dir.)%20Livro%20online&f=false


O conceito de Inconsciente ...


                             O conceito de Inconsciente 




                              

O conceito de Inconsciente passou por várias mudanças, ao longo da vida de Freud. Para explicá-lo nos basearemos no artigo metapsicológico de 1915 chamado O•Inconsciente. O que se pretende esclarecer neste artigo é o conceito de Inconsciente segundo as formulações de Freud (1856-1939).

Entretanto, a expressão “inconsciente” já era usada antes da fundação da Psicanálise, ainda que portando outros sentidos diferentes do que Freud pretendera enunciar. Por isso, o texto principal dedicado ao conceito inicia-se apresentando as idéias que não corresponderiam ao inconsciente freudiano.

Vários outros conceitos devem ser abordados para esta compreensão como: os elementos deste inconsciente; os princípios que o regem; a noção de pulsão (tantas vezes confundida com o instinto); o mecanismo do recalque; sonhos e outras manifestações de seu trabalho. Alguns são conceitos melhor aprofundados no decorrer de outros cursos, com o uso de outros artigos, especificamente dedicados a contornar seus espaços e funções no corpo teórico da psicanálise. Entretanto, importam sobretudo no esclarecimento deste conceito mais “popular”: o inconsciente psicanalítico.

TEORIAS DO INCONSCIENTE ANTERIORES A FREUD


Freud não foi o primeiro a discutir com seriedade a mente humana inconsciente, alguns pensadores como Gottfried Wilhelm Leibnitz (1646-1716), Johann Friedrich Herbart (1776-1841) e Fechner abordaram, antes de Freud, profundamente este tema.
Um resumo das idéias destes pensadores acerca do Inconsciente encontra-se no artigo As Teorias da Mente Inconsciente

JUSTIFICANDO O INCONSCIENTE: DETERMINISMO PSÍQUICO


"Ela [a suposição do inconsciente] é necessária porque os dados da consciência apresentam um número muito grande de lacunas; tanto nas pessoas sadias como nas doentes ocorrem com freqüência atos psíquicos que só podem ser explicados pela pressuposição de outros atos, para os quais, não obstante, a consciência não oferece qualquer prova. (...) esses atos se enquadrarão numa ligação demonstrável, se interpolarmos entre eles os atos inconscientes sobre os quais estamos conjeturando. (...) a suposição da existência de um inconsciente nos possibilita a construção de uma norma bem sucedida, através da qual podemos exercer uma influência efetiva sobre o curso dos processos conscientes (...). (Freud, 1915a, p.192)."

O determinismo psíquico orienta todo o raciocínio freudiano para chegar ao conceito deInconsciente. Segundo este princípio, para todo evento há uma causa. Nada ocorre ao acaso. Se um evento parece ocorrer espontaneamente, isto se deve aos elos entre os eventos e pensamentos anteriores, ocultos no inconsciente. Sempre há uma conexão entre os pensamentos, e tal conexão pode ser explicada a partir da hipótese ou “suposição do inconsciente”.

Como indicadores da existência do inconscienteFreud cita os sonhos, os sintomas, a hipnose, as parapraxias entre outros. Dizia-nos em 1932, de forma bastante didática:

"Denominamos inconsciente um processo psíquico cuja existência somos obrigados a supor — devido a algum motivo tal que o inferimos a partir de seus efeitos —, mas do qual nada sabemos. Nesse caso, temos para tal processo a mesma relação que temos com um processo psíquico de uma outra pessoa, exceto que, de fato, se trata de um processo nosso, mesmo. Se quisermos ser ainda mais corretos, modificaremos nossa assertiva dizendo que denominamos inconsciente um processo se somos obrigados a supor que ele está sendo ativado no momento, embora no momento não saibamos nada a seu respeito. Essa restrição faz-nos raciocinar que a maioria dos processos conscientes são conscientes apenas num curto espaço de tempo; muito em breve se tornam latentes, podendo, contudo, facilmente tornar-se de novo conscientes. Também poderíamos dizer que se tornaram inconscientes, se fosse absolutamente certo que, na condição de latência, ainda constituem algo de psíquico. (1932, p. 90)."

Vemos aqui o surgimento das expressões “conteúdos latentes” e “conteúdos manifestos”, o que equivale a dizer conteúdos inconscientes e conteúdos conscientes a princípio, comportando-se como duas versões que falam de uma mesma coisa, como duas línguas — o segundo como uma distorção do primeiro.

Num sentido mais estrito, o conteúdo latente designaria, por oposição ao conteúdo manifesto — lacunar e mentiroso —, a tradução integral e verídica da palavra do sonhante, a expressão adequada do seu desejo. (Laplanche & Pontalis, 1992, p. 99).

Vale ainda dizer que o inconsciente não é uma entidade empírica, algum órgão ou região do cérebro que Freud tenha descoberto. O termo "descoberta" deve aliás ser usado com reservas ao se falar de inconsciente psicanalítico. Um astrônomo descobre um novo planeta, mas antes deste cientista identificá-lo, o planeta já existia. Quanto ao  inconsciente, esta descoberta, que implica em uma existência anterior, é discutível. Além disto, uma entidade empírica como o planeta se oferece à observação ou à inferência por cálculo. Já o inconsciente, antes ou depois da psicanálise, permaneceu invisível. Confirma-nos esta idéia os comentários de Garcia-Roza:

"Ora, a verificação direta do inconsciente jamais será feita, sua impossibilidade empírica não se deve à falta de instrumentos, mas a sua própria natureza. Uma fenomenologia do inconsciente é uma tarefa impossível. Ele poderá, quando muito, ser inferido a partir de seus efeitos na consciência ou, melhor ainda, a partir de seus efeitos no discurso manifesto, mas jamais ser objeto de observação direta. (1999, p. 211)."

O INCONSCIENTE NÃO É CAÓTICO


Partindo então de uma definição negativa, digamos o que o Inconsciente não é: ele não é a margem da consciência nem o profundo desta consciência, tampouco o lugar de algo caótico e misterioso.

A conotação entre inconsciente e caos deve-se a ênfase dada à consciência, coordenada pela lógica e pela razão. Alguns teóricos — citados anteriormente como Fechner, Herbart e Leibnitz — tinham a consciência como o objeto de estudo principal, e não falavam, afinal, do que se passava com o inconsciente.

Freud, entretanto, enfatiza o inconsciente em toda sua teoria como algo que pensa, ao contrário do que se entendia até então. O inconsciente pensa, e tanto o faz que é necessária a incidência de uma censura para que os sonhos tenham o aspecto incoerente como são lembrados. Ou ainda, nas palavras do ilustre professor Garcia-Roza: "Se os conteúdos latentes dos sonhos fossem caóticos e ininteligíveis, não haveria motivo para serem distorcidos pela defesa" (1999, p. 209).

A função da censura é distorcer o conteúdo latente dos sonhos para que o manifesto surja de forma ininteligível, pelo menos até Freud anunciar algumas leis que regem esteinconsciente e assim permitir sua interpretação. Antes de Freud, o inconsciente era expressão usada como adjetivo daquilo que não era consciente — o que difere de um sistema psíquico autônomo regido por leis próprias.

inconsciente psicanalítico marca assim sua diferença maior do que era postulado pela psicologia da consciência. Para esta última corrente, psíquico e consciência eram equivalentes, apesar de vários graus de consciência serem possíveis. Mas nem mesmo esta gradação Freud concordava ser atribuível para seu inconsciente. Não era nem o mais profundo, nem o mais afastado da consciência, como pode conotar alguns apelidos que tentaram sinalizar a psicanálise como "psicologia profunda" ou "psicologia das profundezas".

Freud não nos fala de uma consciência que não se mostra, mas de outra coisa inteiramente distinta; fala-nos de um sistema psíquico, o Ics (Ubw) que se contrapõe a outro sistema psíquico, o Pcs/Cs (Vbw/Bw), que é em parte inconsciente (unbewusst) mas que não é o inconsciente (das Unbewusste). (Garcia-Roza, 1999, p. 210)

Ou seja, parte dos processos que compõem o sistema Cs/Pcs podem ser inconscientes, mas nem todo processo inconsciente faz parte do Cs/Pcs e sim, do sistema Ics.

INCONSCIENTE E A PRIMEIRA TÓPICA


Freud formulou duas teorias para a explicação do aparelho psíquico, o que se costuma denominar tópicas.

A primeira tópica elenca três sistemas, Inconsciente (abreviado como Ics), Pré-consciente (Pcs), e Consciente (Cs). Entretanto, Freud logo assimila o Cs como um dispositivo do sistema Pcs, com a função de atenção, ficando então apenas uma grande divisão, entre Ics e Pcs-Cs:

Percepção______________Ics____:_____Pcs_____________Consciência

Mas além do sentido sistemático existe o sentido descritivo para falar de processos inconscientes, enquanto não conscientes. Quando anteriormente falávamos daquilo que se explicava como inconsciente antes de Freud, como simplesmente o que não é consciente, é de fato num sentido descritivo que o termo está sendo usado.

Definir a natureza inconsciente de um fato psíquico pela sua relação à consciência, isto é, pela sua não presença na consciência, corresponde ao que Freud chamou de sentido descritivo do termo “inconsciente". (Garcia-Roza, 1999, p. 218).

Estes processos não conscientes encontram-se no sistema Pré-consciente, podendo este sercompreendido como uma área de posse das lembranças, necessária para que a consciência exerça sua função. Para lembrarmos de um dado, todas as lembranças não podem se encontrar conscientes ao mesmo tempo. Estas lembranças, idéias inconscientes do Pcs, são facilmente tornadas conscientes. São exemplos para algoinconsciente no sentido descritivo: datas que não estão no momento presentes na nossa consciência, mas que podem vir a ela por decisão própria; coisas que aconteceram ontem, o que você comeu no café da manhã.

Mas há também processos inconscientes que não se tornam conscientes por uma mera decisão. É o recalcado e este sim, pertence ao sistema Inconsciente, sendo a expressão utilizada então no sentido sistemático do termo.

A diferença entre uma representação inconsciente no sentido descritivo e a representaçãoinconsciente no sentido sistemático se dá frente a uma resistência que impede a segunda de se tornar consciente. É a censura de que falamos anteriormente.

Há uma diferença fundamental entre a representação que é inconsciente (no sentido descritivo) e aquela que é inconsciente porque pertence ao sistema Ics. No primeiro caso, ela em nada difere das representações conscientes e não há qualquer impedimento a que se torne consciente, enquanto que no segundo caso ela está submetida a uma outra ordem e há uma resistência, por parte do sistema Pcs/Cs, a que ela tenha acesso à consciência. Essa resistência é exercida em nome da censura que opera no limite entre os sistemas Ics e Pcs/Cs. (Garcia-Roza, 1999, p. 219).

Em resumo, os processos inconscientes que facilmente tornam-se conscientes pertencem ao sistema Pcs enquanto os processos inconscientes, que são difíceis de vencer a censura, pertencem ao sistema Ics, pois não chegam ao sistema Pcs-Cs pela ação do recalque. Para esclarecer vejamos um exemplo:

"A fim de explicar um lapso de línguagem, por exemplo, achamo-nos na obrigação de supor que a intenção de fazer um determinado comentário estava presente na pessoa. Concluímo-lo, com segurança, a partir da interferência dessa intenção no comentário que ocorreu; mas a intenção não foi levada a cabo e era, portanto, inconsciente. Quando, a seguir, nós a revelamos à pessoa que cometeu o lapso, se ela reconhece tal intenção como sendo-lhe familiar, era-lhe esta, então, apenas temporariamente inconsciente; se, contudo, a repele como algo alheio, tal intenção foi, então, permanentemente inconsciente. (Freud, 1932, p. 90-91)."

INCONSCIENTE E A SEGUNDA TÓPICA


Na  segunda tópica , o termo inconsciente é usado no sentido descritivo novamente para qualificar processos de vários sistemas, neste caso o Id, parte do Ego e parte do Superego. Se a diferença entre Ics e Pcs — enquanto sistemas portanto — da primeira tópica era inter-sistêmica, a partir da segunda tópica, a diferença apontada é intra-sistêmica, ou seja, tanto no Ego quanto no Superego existem processos inconscientes e processos conscientes (já no Id, de fato não há possibilidade desta coexistência).

De forma extremamente simplista, podemos considerar que, enquanto o Id não conhece valores morais e é regido pelo Princípio do Prazer, buscando sempre reduzir a tensão, o Ego se coloca como mediador entre os impulsos do Id e a realidade exterior, sendo regido pelo Princípio da Realidade. Para esclarecer a relação entre Id e Ego, Freud usa a analogia do cavalo e do cavaleiro ilustrando suas funções respectivamente (cf. Freud, 1932, p. 98). Já o  Superego desenvolve-se a partir da assimilação das regras de conduta, sendo sua parte consciente a moral que rege por exemplo o convívio social.

CONTEÚDOS DO SISTEMA INCONSCIENTE


Dentre os processos inconscientes que não superam a resistência com facilidade, ou seja, os processos inconscientes pertencentes ao sistema Ics, há ainda os de outra classe: os que sempre foram inconscientes. Isto é o que se deriva da máxima “Tudo que é reprimido deve permanecer inconsciente; mas (...) o reprimido não abrange tudo o que é inconsciente"(Freud, 1915a, p. 191).

Estes são os representantes das pulsões. Mas o que vem a ser a pulsão?

A pulsão é a suprema causa de toda atividade psíquica além da premissa inicial de toda a postulação sobre o inconsciente: o determinismo psíquico. Enquanto seu aspecto físico é a necessidade, o aspecto mental é o desejo. As pulsões não são predisposições herdadas, como pode ser compreendido pelo sentido usual da palavra instinto. Refere-se em verdade à fontes de estimulação do interior do corpo, sendo suas principais características sua origem interna e seu aparecimento como força constante contra a qual a ação de fuga não tem eficácia.

Se agora nos dedicarmos a considerar a vida mental de um ponto de vista biológico, uma 'pulsão' nos aparecerá como sendo um conceito situado na fronteira entre o mental e o somático, como representante psíquico dos estímulos que se originam dentro do organismo e alcançam a mente, como uma medida da exigência feita à mente no sentido de trabalhar em conseqüência de sua ligação com o corpo. (Freud, 1915b, p.142).

Os representantes de uma pulsão podem ser dois: o representante-coisa e o representante-palavra. Mas se a pulsão pode ser considerada quanto à pressão, à finalidade, ao objeto e à fonte, é sob o primeiro aspecto que se denomina como libido ou energia psíquica.

Esta energia é a que se encontra investida nas representações, de acordo com o sistema Ics ou o sistema Pcs-Cs. No Ics encontram-se as representantes-coisa somente. Sua energia está livre, caracterizando assim a mobilidade do  Processo Primário dos conteúdos inconscientes. No Pcs encontram-se representantes-coisa e representantes-palavra. Para um conteúdo tornar-se consciente é preciso que os dois tipos de representantes se encontrem, caracterizando então o processo secundário.

No recalcamento não se trata apenas de evitar que uma representação Ics se torne Cs, mas de impedir que a representação-coisa, pertencente ao sistema Ics, seja traduzida em palavras, isto é, seja sobreinvestida a partir do sistema Pcs, fazendo o enlace com a representação-palavra. (Garcia-Roza, 1999, p.229).

Conhecer as conexões dos pensamentos e tornar disponível a libido que antes era usada para manter uma idéia inconsciente, são alguns dos objetivos da Psicanálise.


AS PROPRIEDADES DO SISTEMA ICS E DO SISTEMA PCS



Em resumo, são características dos processos inconscientes: a ausência de negação; o  processo primário (promovido por deslocamento, condensação e a mobilidade da energia); a atemporalidade e a substituição da realidade externa pela psíquica (regida pelo princípio do prazer).

Já os processos do sistema Pcs inibem a descarga de idéias catexizadas, promovendo o deslocamento de parte desta catexia para outra idéia mais admissível, num papel de censura. Unindo representante-coisa a representante-palavra o  Processo Secundário é caracterizado pela ligação da energia (sendo regido pelo  principio da realidade). Devido à ausência da negação, de dúvida ou de grau de certeza, desejos opostos podem coexistir sem se anular no Inconsciente. Logo, os representantes inconscientes somente chegam à consciência depois de deformados pelo recalque ou em formações de compromisso.

Os representantes pulsionais que formam o núcleo do Ics estão coordenados entre si mas sem se influenciarem mutuamente e sem se contradizerem, o que significa que, se forem ativados simultaneamente e se suas metas forem incompatíveis, as moções pulsionais não se cancelam reciprocamente, mas confluem em direção a uma meta intermediária, numa solução de compromisso. (Garcia-Roza, 1999, p. 231).

Este princípio que se insinua é o da não-contradição, dois desejos opostos podem coexistir variando quanto ao investimento pulsional que cada um carrega. Daí se define o conflito psíquico como inerente ao aparelho freudiano e a formação de compromisso cujas ilustrações principais são os sonhos e os sintomas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Teria então Freud criado o inconsciente tal como uma ficção? Esta pergunta nos remete ao problema do estatuto ontológico do inconsciente, ao realismo do inconsciente e a diferentes orientações clínicas 5dentro da própria psicanálise.

Juan David Nasio nos oferece uma amostra de como este problema pode ser discutido através do que lhe foi perguntado em uma de suas conferências:

"— A propósito do inconsciente, eu gostaria, em primeiro lugar, de conhecer sua reação à réplica de um amigo meu que não acredita na psicanálise e que me disse, recentemente: "Quanto a mim, não tenho inconsciente!". Que acha o senhor disso? É possível não ter inconsciente?
— Se você me permite a ironia, creio que seu amigo tem razão: ele não tem inconsciente.
— Mas como é que ele pode ter razão?!
— Ele tem razão porque, a meu ver, se o inconsciente existe, ele só pode existir no interior do campo da psicanálise e, mais precisamente, no interior do campo do tratamento analítico. Ora seu amigo parece situar-se fora desse campo e, por conseguinte, fora do inconsciente". (Nasio, 1993, p. 49). O que está implicado aqui é uma diferença de concepção entre “inconsciente pessoal” e “inconsciente impessoal”. Se consideramos o inconsciente como pessoal, numa sessão de análise encontrar-se-iam o inconsciente do paciente e o inconsciente do analista. Já se considerarmos o inconsciente como impessoal, diremos que há apenas um inconsciente e que este é produzido pela “transferência” como um efeito.

 Lacan foi quem mais consolidou este entendimento — formulando o inconscientecomo “transindividual” (cf. 1953, p. 260) e como “ético” (cf. 1964, p. 37) — em oposição a Laplanche — que defendeu a individualização do inconsciente em respeito à realidade atribuída às representações, ao recalcado com intensidade, ao investimento afetivo e sua função de representação da pulsão.

Para finalizar, cabe notar o que ainda nos recomenda Garcia-Roza: "Apesar de expressarem pontos de vista opostos, ambas as teses pretendem fidelidade  ao texto freudiano, ou, pelo menos, é ao texto freudiano que recorrem para demonstrar suas hipóteses. Convém, portanto, retornarmos também a ele" (1999, p. 218).

O que pode se notar então é que dentro da psicanálise não existe uma concepção única doinconsciente e seu funcionamento. O texto freudiano permite várias leituras, o que leva à existência de diferentes orientações clínicas como as de Jacques Lacan, Melanie Klein, Jean Laplanche, e outros. Neste artigo entretanto, procura-se apresentar as primeiras formulações de Freud, ainda que pareçam, em alguns momentos, objeto de um raciocínio contraditório. Lembremos, porém, que estamos conferindo o nascimento da psicanálise, e que seus conceitos precisaram ser lapidados durante toda a vida de Freud. Nem por isso, e mesmo depois de outros estudiosos terem se dedicado exclusivamente à psicanálise, não se chegou a uma formulação homogênea de toda sua teoria, mas a várias frentes de pesquisa em busca do aperfeiçoamento da conceituação e decodificação doinconsciente psicanalítico.

Texto de Juliana Lidia Machado Cunha Lunz - Mestra em Teoria Psicanalítica pela UFRJ