domingo, 3 de março de 2013

Universo particular

Patologia

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A Síndrome Asperger se revela nos mais íntimos complexos humanos - no olhar, no gosto e na relação social -, o que não impede, contudo, o percurso de uma vida normal

Por Marcelo Jucá



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Quando Ubiratan foi informado de que seu filho, então com 3 anos, deveria recorrer a acompanhamento médico ou terapêutico, pois de forma alguma ele conseguia se relacionar com os colegas e participar das atividades escolares, o susto foi tremendo. Preocupado, trocou o menino de escola, optando por uma que oferecesse apoio psicológico para as crianças. Logo no começo, conversou com os profissionais e professores a respeito das dificuldades que o filho enfrentava.
Mas bastaram poucos meses para que todos chegassem ao consenso de que o problema estava além da simples socialização e envolvia outras dificuldades que somente um especialista poderia cuidar. A grande dúvida era qual profissional procurar, pois até o momento ninguém sabia qual era o problema. O garoto era quieto, não se relacionava com outras crianças e dificilmente olhava nos olhos de seus interlocutores. E mais, tinha uma adoração especial por trens.
Depois de muitas idas e vindas a diferentes profissionais, um neuropediatra conseguiu fechar o diagnóstico. Síndrome de Asperger, um tipo de autismo (ver quadro Autismo e Asperger) que se desenvolve, principalmente, em crianças do sexo masculino, apesar de ninguém ainda saber exatamente o que origina seu problema.
A Síndrome Asperger se revela nos mais íntimos complexos humanos – no olhar, no gosto e na relação social –, o que não impede, contudo, o percurso de uma vida normal
Os “aspies” – como se autodenominam os portadores da síndrome – não apresentam nenhum traço físico aparente da doença e possuem inteligência tão desenvolvida quanto a sua ou a minha. Suas dificuldades de comunicação são confundidas muitas vezes como mera timidez, enquanto, na verdade, enfrentam problemas de primeira ordem relacionados à sociabilidade, compreensão da linguagem e interesse exclusivos por determinados assuntos, o que abala as estruturas convencionais na formação de vínculos com a sociedade
Marcelo Jucá é jornalista e colabora com esta publicação

Para saber mais
Autismo e AspergerDe acordo com o psiquiatra Ami Klin, autismo e sín­drome de Asperger são duas patologias diferentes, apesar de semelhantes em alguns sintomas. Como define o especialista, “autismo e síndrome de Asperger são entidades diagnósticas em uma família de transtornos de neurodesenvolvimento nos quais ocorre uma ruptura nos processos fundamentais de socialização, comunicação e aprendizado. Esses transtornos são coletivamente conhecidos como transtornos invasivos de desenvolvimento.”
A escolha de grande maioria de médicos e psicólogos se referir a Asperger como “um tipo de autismo” se diz em razão do conhecimento prévio que se tem do autismo e de seus sintomas, o que justifica a compreensão mais fácil do público leigo.
Como consequência, da infância até a vida adulta, são potenciais vítimas de bullying e podem apresentar tendências depressivas e tornarem-se sedentários, entre outros problemas que dependem do indivíduo e do meio social que o cerca. Tudo isso se eles enfrentarem as dores sozinhos. O papel dos pais é de extrema importância nesse percurso e, como salienta a neurologista Carla Gikovate, todos os portadores da síndrome podem aprender tudo, ter um trabalho, beijar a namorada e ter uma vida normal. “Meu filho, hoje com 6 anos, é um exemplo disso”, orgulha-se o pai Ubiratan, que o vê enfrentar diariamente seus abismos internos.

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